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PLURAL: os textos de Neila Baldi e Noemy Bastos Aramburú

Qual Universidade queremos?
Neila Baldi 
Professora universitária

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Nesta sexta-feira, o Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPE) Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) avalia dois processos contraditórios: de um lado, a possibilidade de abrir cursos de pós-graduação pagos; de outro, a universalização das cotas nos programas de pós-graduação. Contraditórios porque ao mesmo tempo em que diz que quer aumentar o acesso de pessoas tradicionalmente excluídas, afirma que alguns cursos só poderão ser feitos por aqueles e aquelas que podem pagar. O que está em debate, no fundo, é: qual Universidade queremos?

De minha parte, quero uma universidade pública, gratuita, laica e de qualidade. Portanto, é dever do Estado garantir a educação e, para isso, financiá-la. Ocorre que, nos últimos anos, o orçamento destinado às universidades vem caindo e muitas destas instituições enxergam formas de subvenção nos cursos pagos.

QUEM PODE PAGAR

Quando uma instituição pública oferece um curso pago ela diz que só quem tem dinheiro pode fazê-lo. Aprovar a possibilidade de cobrança significa colocar a universidade à disposição das elites e em uma lógica privatista e de mercado. É a porteira aberta para a privatização do ensino superior. Primeiro eu autorizo alguns cursos excepcionais, depois para todos os cursos até que se volte aquela ideia esdruxula de mensalidade na universidade pública e uma bolsa para quem não pode pagar...

A privatização do ensino impacta em outros aspectos que, considero, serem importantes para a Universidade que desejo: ser também laica e de qualidade. Colocar a Universidade à disposição do mercado implica, invariavelmente, estar à mercê de interesses, inclusive de conglomerados educacionais religiosos ou ideologicamente conservadores - quando a Universidade pública tem que ser um lugar de diversidade de opiniões e manifestações. É abrir a porta para a chamada "escola sem partido" que, na verdade, tem partido.

RETROCESSO

Privatizar o ensino superior também significa diminuir a qualidade do mesmo. Quais são as universidades de excelência hoje no país? Quantas instituições privadas conseguem ter a qualidade do ensino público? Quantas investem em pesquisa e extensão? A lógica do mercado é mais por menos, o que significa investir apenas naquilo que considera lucrativo e não socialmente justo ou de interesse público. A lógica do mercado vai priorizar uma formação operacional.

Vínhamos, ao longo das últimas décadas, aumentando o acesso à Universidade, com políticas de enfrentamento às desigualdades. Muitas destas macropolíticas estão sendo colocadas em prática apenas agora nas instituições - como a de ações afirmativas para a pós-graduação que a UFSM vota nesta sexta-feira. Abrir a possibilidade de cobrança da pós, portanto, é uma ação contrária a estas políticas e um retrocesso histórico no que diz respeito ao combate às desigualdades. Sem falar que a pandemia acelerou processos de exclusão e, portanto, cabe ao Estado - e à Universidade pública - incluir e promover meios de enfrentar as desigualdades.

"As relações escorrem entre os dedos"

Noemy Bastos Aramburú
Advogada, administradora judicial, palestrante e doutora

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No início da semana, a cubana Zoe Martinez, que ficou conhecida por seu canal no Youtube apresentando críticas ao comunismo e à ditadura Cubana, apresentou um vídeo mostrando o desrespeito que sofreu em frente ao Consulado Cubano. Ela havia reservado como determina a lei, com licença de uso do espaço, para que os Cubanos se manifestassem sobre a liberdade e contra a tirania sofrida em seu país, quando foram atacados violentamente por grupos com bandeiras de Che Guevara, MTST, LGBT e outros de esquerda. 

No vídeo se ouve as palavras de baixo calão proferidas contra Zoe e os demais, os quais só não foram agredidos fisicamente pela intervenção da Polícia. O grupo juntamente com Zoe saiu escoltado do local, levando a licença e o alvará para utilização do espaço para evitar o confronto. Ouvindo as palavras proferidas por Zoe em seu ânimo exaltado e inconformada com a usurpação do espaço que ela havia conseguido, creio que, mais indignada ainda por ser acadêmica de Direito, Zoe diz: vai para Cuba viver o comunismo, vai morar lá e ver se consegues manter este peso (se referindo a falta de comida), se vais poder te expressar livremente em praça pública, tu fala do comunismo porque não viveu lá"... 

Independente do lado que se toma, a favor de Zoe ou do grupo que ocupou o espaço, o que fica claro, é a falta de respeito com que as pessoas estão agindo em nome da política, da economia, da saúde e etc.. Criaram uma cultura do "tudo posso", e neste tudo posso, as minhas ideias devem ser acatadas, nestas horas me vem a fala do polonês Zygmunt Bauman, ao apresentar a sociedade atual - modernidade líquida - conceito sociológico que tenta definir como se dão as relações sociais na atualidade, onde vivemos um período marcado pelas transformações nas relações sociais, econômicas e de produção desencadeadas pelo capitalismo globalizado, As pessoas além de não se respeitarem, não possuem convívio pacífico, como se vivêssemos numa panela de pressão prestes a explodir, como diz Bauman "as relações escorrem entre os dedos". 

Se eu colocasse esse vídeo em minhas redes, certamente receberia críticas exaltadas de vários grupos, outros deixariam de me seguir, a panela de pressão explodiria, meus amigos virtuais escorreriam entre meus dedos. O mais interessante de tudo isso, é que quem vive a esquerda não quer a esquerda, Zoe, e quem acha que sabe o que é ser esquerda luta pela esquerda, luta pelo comunismo, com seus tênis All Star, seus celulares Iphone, passando as férias na Disney, com ostentações diárias em suas redes, com seus carros automáticos, livros e amigos virtuais, enfim, com tudo o que o dinheiro pode proporcionar ou comprar. Que sejamos autênticos, quem quer ser comunista, comece liberando uma peça do seu apartamento para um morador de rua, plantando seu alimento, não usando jeans, mostre o que você está fazendo pelo comunismo, pelo socialismo e pare de comprar essas coisas, pois isso é coisa capitalista.

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